Durante uma das aulas sobre criação de capas, fomos incentivados a refletir sobre nosso campo de estudo e sobre as bases de nosso trabalho como designers e artistas. Ao olhar atentamente, percebi que minhas criações são o resultado de diversas referências: cultura, música, cinema, texturas... e, no fim, tudo isso se transforma em algo autoral, marcado pela minha identidade.
Entendi, então, que meu trabalho é como uma grande colcha de retalhos. Embora, para alguns, retalhos possam ser vistos como restos ou sobras, para mim, eles têm um significado muito maior. De acordo com o Westwing, "A colcha de retalhos é feita de sobras de tecido cortadas e costuradas à mão ou à máquina nas dimensões de uma colcha de cama comum. Esse tipo de colcha é um dos produtos típicos do artesanato brasileiro e da cultura do campo." No Nordeste, essa tradição é muito presente, também conhecida como fuxico.
Ao mesmo tempo, há uma filosofia japonesa chamada kintsugi, que, segundo a Wikipédia, significa: "Kintsugi, também conhecido como Kintsukuroi, é a arte japonesa de reparar cerâmica quebrada com laca, espanada ou misturada com pó de ouro, prata ou platina." Mas o que o retalho, o kintsugi e meu trabalho têm em comum? A partir de referências diferentes (e não erradas ou sobras), tudo converge para criar uma valorização do que é diferente. Assim como o ouro no kintsugi eleva a cerâmica quebrada, tanto o kintsugi quanto a colcha de retalhos são processos manuais que exaltam a singularidade.
No kintsugi, cerâmicas quebradas são reparadas com laca misturada com ouro, prata ou platina, destacando as rachaduras em vez de escondê-las, o que resulta em uma peça que é ainda mais preciosa por causa de suas imperfeições. Da mesma forma, a colcha de retalhos é feita de sobras de tecido que, quando combinadas, formam uma peça única e cheia de história.
Em ambos os casos, há uma valorização do processo artesanal e da diversidade de materiais, onde cada elemento, por mais pequeno ou imperfeito que seja, contribui para a criação de um todo harmônico e significativo. Ambos simbolizam a ideia de que a beleza pode ser encontrada nas imperfeições e que as diferenças, quando unidas, criam algo singular e precioso.
Seja através de padronagens inspiradas no design africano, no processo de criação do alfabeto coreano ou em símbolos presentes na cultura brasileira, consigo construir narrativas estéticas com perspectivas plurais e comunicar de maneira contemporânea.
Meu trabalho é, de fato, uma grande colcha de retalhos, pois é na pluralidade de conhecimentos que encontro minha forma de expressão, de criação, e onde há espaço para minha multidisciplinaridade. É a partir da convergência dessa pluralidade que o singular se manifesta.
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